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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Um beco com poucas saídas

Compartilho com todos o texto de um grande amigo, guru, desconselheiro e membro do meu ex-grupo "Tarados por Livros". Grande conhecedor da realidade das comunidades urbanas do Rio de Janeiro, nascido e criado na Rocinha, Zezinho, como é conhecido por lá, faz uma brilhante reflexão. Salve a Rocinha! Salve as comunidades urbanas e periurbanas do nosso Rio de Janeiro e o resgate de sua cidadania. Favelas que carregam o peso histórico do samba e do desenvolvimento carioca.

Foto: Angelo Baeta


Um beco com poucas saídas

"Morar numa favela é viver em condições limites, em todos os sentidos. Os recursos econômicos, sociais, políticos, e até o exercício da cidadania é limitada. São poucas as ruas, prevalecem os becos estreitos que entrelaçam-se num emaranhado de caminhos entre casas, prédios, barracos, valas abertas...; são veias abertas de uma sociedade marginalizada e estigmatizada pelo silêncio imposto, pela exclusão do marco legal da cidade, pelo domínio de um poder que se impõe pelo medo.
Quem mora numa favela quase não tem horizonte, e muitos realmente não têm. Morar numa casa de beco limita-se a convivência diária entre a sua vida e a dos vizinhos, que dividem a parede com sua casa ou barraco. A privacidade é no limite, pois todos sabem da vida do outro ainda que não queiram saber. Mas é impossivel não ouvir gritos ou sussurros.
Morar num beco limita sua visão do mundo, pois o beco é tortuoso e escuro; fechado pelos telhados ou lajes das casas e barracos, quase não vemos o céu, a lua o sol, o horizonte.
Ao longo dos anos os becos tornaram-se mais estreitos, mais limitados e cerceados. Foram ocupados pela droga, pelas armas e pelo medo. Já não bricavamos mais de bolinha de gude, de pique esconde. Já não brincavamos mais.
Passei minha infância, minha adolescência e boa parte da minha juventude morando num beco. Busquei na escola ampliar meu horizonte, ou melhor encontrei na escola meu horizonte. Fiz da escola e dos meus amigos meu caminho para fora do beco. Eu queria a rua larga, espaçosa e sem limtes.
Espero que a Rua 4 na Rocinha seja o início do fim dos becos naquela favela. Abrir ruas é importante para melhorar a circulação das pessoas, mas é preciso que as oportunidades cheguem pela mesma rua, para que as pessoas, principalmente os jovens não fiquem limitados aos becos da favela; mas encontrem uma rua larga que conduza-os a um futuro..."
 
José Luiz Souza Lima
 
Fonte: http://zeluizhistoria.zip.net/