Esses dias, conversando com minha mãe, me caiu a ficha sobre idade.
Confesso que há muito não me dou conta tampouco me aflige essa questão. Pelo contrário.
Sou como o vinho, que ganha corpo e sabor com o envelhecimento. Curto minha capacidade de amadurecer idéias e posições, assim como conceitos e reconhecer erros.
Em 2012 completarei 40 anos. Minha mãe, certamente, completará mais um pouquinho.
Porém ela se demonstrou mais preocupada. Acho que bate uma insegurança.
Por isso resolvi escrever e tentar, de alguma forma, amenizar esse sentimento de minha mãe.
Bom, que tal voltarmos à Juiz de Fora, interior do Estado do RJ, mas que a geografia teima em dizer que é de MG.
Foi lá que nasceu Dona Dotye. Primogênita de uma família de 5 irmãos, os outros 4 homens.
Meu avô teve uma história meio parecida com o antigo personagem Quéqué, antigo caixeiro viajante e teve seus filhos um em cada cidade diferente e todas com estações de trem.
Mais tarde descobrimos mais dois irmãos e duas irmãs de minha mãe em outras duas famílias de meu avô. Mas essa é uma longa e certamente outra história que não terá desenvolvimento aqui.
Desde muito nova Dona Dotye teve que trabalhar bastante para ajudar na criação de seus irmãos, após a separação de meus avôs. Foi trabalhar na “capital”, no Rio de Janeiro, onde conheceu meu pai. Não era uma cara muito bonito, pois é a cara do meu irmão....mas era um cara do bem, que era amigo de seus amigos e de quem herdei os sorrisos e gracejos.
Novamente a vida lhe pregou outra, pois o levou muito novo. No auge de seus 29 anos.
O trabalho, sobrenome de minha mãe na vida prática, teve que aumentar para conseguir criar seus dois filhos homens. Tivemos uma ajuda grande de minha avó Heloisa, avó paterna, com quem moramos por muito tempo.
Minha mãe sempre foi assim, guerreira. E sempre nos passou muita ética e comprometimento em tudo que faz. Talvez, como toda mãe, passional ao extremo. Não por coincidência fazia uma coleção de corujas de artesanato....boa parte dela quebrada pelo meu irmão sempre altivo em sua infância.
Mãe, você deveria olhar mais para trás. Olhar essa trajetória linda e analisar com carinho seus frutos. Criou dois filhos não fumantes, não usuários de drogas ilícitas (cerveja e cachaça são muito lícitas por aqui, viu? Gera até imposto!), três (ou cinco se a contagem for à vera) netos...kkk...e um legado de sobriedade e honestidade.
Diferenças todos as têm. Não haveria de ser diferente. Mas as diferenças servem para que uma família de verdade se complete.
A idade só coroa todo o esforço que da vida fazemos para transformar opções em conquistas. E nesse quesito, sentimos muito orgulho de ti.
Toda história tem início, meio e fim. Cabe a nós escrevermos ao máximo suas linhas para que esse fim nunca chegue. E não chegará.
Obrigado por suas linhas, mamãe, e as linhas que escrevo, também as linhas que seus netos escreverão, e seus bisnetos, quando existirem...delas, essas linhas, dependem de sua firmeza. Firmeza de alma, de coração e, porque não, de sua merecida e completa ... idade!