domingo, 15 de setembro de 2013

Um bom livro é uma forma de oração

Uma das coisas que mais gosto é ler, outra é viajar.
Acho que ambas se completam e nos mostram novos horizontes, explodem informações de culturas e ideias diferentes das nossas ou que reforçam nossos sentidos no prazer de conhecer e saborear descobertas, sejam elas visuais, olfativas, intelectuais ou mesmo gastronômicas.
De fato, tenho me privado de ler mais do que gostaria, mas nunca abandono esse hábito que estimulo passar por gerações. Justamente num momento de globalização da robustez cerebral, com tantos "feicebuquísmos" e proliferação voraz das redes sociais. Acredito que se chamam assim para justificar a preguiça intelectual que geram, deitando em redes e esperando que o novo se faça presente na tela de um computador, iphone, ipod, ipad, me impede, num pode, e coisas afins.
Não que eu seja contra a globalização e as redes sociais, muito pelo contrário, sou um fã ardoroso e usuário diário. Mas seu uso não pode nem deve obstruir os outros meios, tanto o quanto importantes, como o do contato físico e intelectual.
Em um texto de Christian Barbosa sobre a "Tríade do Tempo", que fala da importância de auto-gerirmos o tempo e organizarmos nossa vida no tripé família-trabalho-vida, recebi como um bom recado um trecho no qual ele diz que uma das coisas que deveríamos nos permitir de vez em quando é dedicar nosso tempo de leitura a algum texto/narrativa que seja completamente diferente do que está acostumado. Nada como assuntos relacionados ao seu trabalho, aos seus hobbies ou a textos que usualmente você teria o hábito de ler. Mas sim um texto que não tivesse nada a haver contigo. Exatamente para se permitir conhecer o novo. Mesmo que fosse para discordar depois, mas para abrir a sua mente.
Fiquei fascinado com isso, e me permiti ler algumas coisas que até então não o faria, nem sequer compraria livros assim.
A primeira experiência foi com um livro da literatura africana do escritor Ondjaki, e a segunda foi recentemente com o livro do músico Lobão (Manifesto do Nada na Terra do Nunca). Foi simplesmente avassalador.
Sempre imaginei o Lobão com uma bossalidade incrível, apesar de gostar de algumas de suas criações nos anos 80. Mas depois desse livro minha percepção sobre ele mudou completamente. Sou fã da intelectualidade e autenticidade do Lobão.
Em uma de suas muitas críticas, atualíssimas, faz uma crítica em forma de carta aberta à Oswald de Andrade, com referência à "A Utopia antropofágica" publicada em 2011, em que diz: "...Fecho com você em relação à ignorância real das coisas. Hoje em dia, você sabia que a média anual de leitura do brasileiro universitário é de menos de um livro por ano? E que 90% desse ínfimo número são livros de autoajuda ou doutrinas fajutas da esquerda?...".
Realmente é preocupante. 
Aqui em casa Gabriel, meu filho de 3 anos, não dorme sem escutar duas ou três histórias de livros infantis. Ele já tem seu cantinho de livros e escolhe quais quer ouvir. Às vezes, várias vezes as mesmas diversas vezes...
Fernanda, minha filha de 17,9 anos, já herdou esse hábito e lê bastante.
Fico feliz com isso. Mas fico preocupado com o universo que os rodeiam, que se mostram contrários a isso e podem ser cruéis com os diferentes.
O filósofo alemão Johan Wolfgang Von Goethe, ou simplesmente Goethe, dizia que "O declínio da literatura indica o declínio de uma nação". Este é o mesmo filósofo que disse que: "Só é possível ensinar uma criança à amar, amando-a". Aí segue a dica para algumas pessoas que conheço: de que adianta estimular crianças ao hábito da leitura se não o temos em casa e nem o fazemos juntos e diariamente?
Felizmente estou fora da média universitária de um livro por ano, mas sei, e me auto-penitencio por isso, que tenho de melhorar meu desempenho nesse campo. Esse ano li 10 livros, excluindo aqui livros e textos relacionados a estudos, cursos, trabalho e afins. O que me dá uma média baixa de apenas um livro por mês. Homeopaticamente vou trabalhar isso e aumentar a previsão dessa meta em 2014 para ao menos dois por mês.
Bom, acho que vale a reflexão. Segue, então, as perguntas: quantos livros vocês tem lido? O que tem feito para mudar ou melhorar essa situação?
Parafraseando Vinícius de Moraes, um bom livro, assim como um bom samba, também é uma forma de oração.   
E por fim o desafio: vamos à leitura?  


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O Carioca visto por um Paulista

E então eu parei o carro, puxei o freio de mão e pensei: “Cheguei em casa”.
Faz 1 ano. Desembarquei com esposa, cachorro e umas malas. A mudança veio no dia seguinte.  Levei 33 anos imaginando “como seria”, e agora tenho 1 pra contar “como foi”.
O Rio de Janeiro é a minha Paris. Eu não sonho com a tal de torre, nem me importo com o Louvre e nem acho do cacete tomar café naquela tal de Champs-Élysées. Eu acho charmoso ir a praia de Copacabana, tomar cerveja de chinelo no Leblon e ir a um samba numa grande escola.
Sou paulista, nunca tive rivalidade bairrista em casa. Nunca me ensinaram a odiar o estado vizinho, ao contrário, sempre me foi dada a ideia de que estando no Brasil, estou em casa.
Ouvi mil mentiras e outras mil verdades sobre o Rio enquanto morei em São Paulo. Todas justas no final das contas.
Carioca exagera tudo, pra baixo e pra cima. Se elogiar a praia, ele exalta dizendo que é “a melhor praia do mundo”. Se falar que é perigoso, ele não nega. Diz que é “perigoso pra caral.....”.
Trata sua cidade como filho. Só ele pode falar mal.
Cariocas não marcam encontro. Simplesmente se encontram.
A confirmação de um convite aqui não quer dizer nada. Você sugere “Vamos?”, eles dizem “Vamo!”. O que não implica em ter aceitado a sugestão.
Hora marcada no Rio é “por volta de”. Domingo é domingo. E relaxa, irmão. Pra que a pressa?
Em 5 minutos são amigos de infância, no segundo encontro te abraçam e já te colocam apelidos.
Não te levam pra casa. Te convidam pra rua. É curioso. Mas é que a “rua” aqui é tão linda que se trancar em casa é desperdício.
Cariocas andam de chinelo e não se julgam por isso.  São livres, desprovidos de qualquer senso de sofisticação.
Ao contrário, parecem se sentir mal num ambiente formal e de algum requinte.
“Porra” é um termo que abre toda e qualquer frase na cidade. Ainda vou a uma Igreja conferir, mas desconfio que até missa comece com “Porra, Pai nosso que estais…”.
Cariocas são pouco competitivos. Eu acho isso maravilhoso, afinal, venho da terra mais competitiva do país. E confesso: competir o tempo todo cansa.
Acho graça quando eles defendem o clube rival pelo mero orgulho de dizer que “o futebol do Rio” vai bem. Eles nem notam, mas as vezes se protegem.
Eles amam essa porra. É impressionante.
Carioca é o povo mais brasileiro que há, mas que é tão orgulhoso do que é que nem parece brasileiro.
Tem um sorriso gostoso, um ar arrogante de quem “se garante”.
Papudos, malandros, invocados. Faaaaalam pra cacete. E sabem que estão exagerando.
Eles acham que sabem  o que é frio. Imagine, fazem fondue com 20 graus!
A Barra é longe. Búzios, logo ali!
Niterói é um pedaço do Rio que eles não contam pra turista. Só eles aproveitam.
REALENGO AQUELE ABRAÇO e A TORCIDA DO FLAMENGO. PADRE MIGUEL A MELHOR ESCOLA DE SAMBA. 
Nilópolis é longe. Bangu também.
Madureira é um bairro gostoso. O Leblon, vale os 22 mil por metro quadrado sugeridos pelos corretores.
Aliás, corretores no Rio são bem irritantes.
Carioca, num geral, acha que está te fazendo um favor mesmo se estiver trabalhando. É tudo absolutamente pessoal, informal.
Se ele gostar de você, te atende bem. Se não, não.
Tá com pressa? Vai se irritar. Eles não tem pressa pra nada.
Sabe aquela garota gostosa que sabe que é gostosa? Cariocas sabem onde moram.
O bairrismo deles é único.  Nem separatista, nem coitadinho. Apenas orgulhoso.  Ao invés de odiar um estado vizinho, o sacaneiam e se matam de rir de quem se ofende.
Cariocas tem vocação pra ser feliz.
São tradicionais, não gostam que o mundo evolua. Um novo prédio no lugar daquele casarão antigo não é visto como progresso, mas sim com saudades.
São folgados. Juram ser o povo mais sortudo do mundo.
E quem vai dizer que não?
No Rio você vira até mais religioso.  Aquele Cristo te olha  todo santo dia, de braços abertos. Não dá! Você começa a gostar do cara…
E aí vem a sexta-feira e o dom de mudar o ambiente sem mexer em nada.  O Rio que trabalha vira uma cidade de férias. As roupas somem, aparecem os sorrisos a toa, o sol, o futebol, o samba, o Rio.
Já ouvi um cara me dizer um dia que o “Rio é uma mentira bem contada pela mídia”.  Ele era paulista, odiava o Rio, jamais tinha vindo até aqui.
E é um cara esperto. Se você não gosta do Rio de Janeiro, fique longe dele.
É a única maneira de manter sua opinião.
Em quase toda grande cidade que vou noto uma força extrema para fazer o turista se sentir em casa. Um italiano em São Paulo está na Itália dependendo de onde for. Um japones, idem. Um argentino vai a restaurantes e ambientes argentinos em qualquer grande cidade.
No Rio de Janeiro ninguém te dá o que você já tem.  Aqui, ou você vira “carioca”, ou vai perder muito tempo procurando um pedaço da sua terra por aqui.
Não é verdade que são preconceituosos. É preciso entender que o carioca não se diz carioca por nascer aqui. Carioca é um perfil.
Renato, o gaúcho, é um dos caras mais cariocas do mundo.
Tem todo um ritual, um jeitinho de se aproximar.
Chame o garçom pelo nome, os colegas de “irmão”. Sorria, abrace quando encontrar. Aceite o convite, mesmo que você não vá.
Faça planos para amanhã, esqueça-os 10 minutos depois. Faça amigos, o máximo de amigos que conseguir.
Quanto mais amigos, mais cerveja, mais risadas, mais churrascos, mais carioca você fica.
E quanto mais carioca você é, mais você ama o Rio. Como eles.
Gosto deles. Gosto de olhar pra frente e não ver onde acaba.  Gosto de sol, de abraço, de rir muito alto e de não me achar um merda por estar sem grana.
Gosto de como eles se viram. Gosto da simplicidade e da informalidade que os aproxima do amadorismo.
A vida não tem que ser profissional.
Tem que ser gostosa.
E de gostosa, convenhamos, o Rio tá cheio.
Ops! Desculpa, amor! Escapou.
abs, merrrrmão!

 
Fonte: RicaPerrone (enviado por e-mail pela amiga Rosena Melo)

domingo, 8 de setembro de 2013

Tu risa

Quítame el pan, si quieres,
quítame el aire, pero
no me quites tu risa.

No me quites la rosa,
la lanza que desgranas,
el agua que de pronto
estalla en tu alegría,
la repentina ola
de plata que te nace.

Mi lucha es dura y vuelvo
con los ojos cansados
a veces de haber visto
la tierra que no cambia,
pero al entrar tu risa
sube al cielo buscándome
y abre para mi todas
las puertas de la vida.

Amor mío, en la hora
más oscura desgrana
tu risa, y si de pronto
ves que mi sangre mancha
las piedras de la calle,
ríe, porque tu risa
será para mis manos
como una espada fresca.

Junto al mar en otoño,
tu risa debe alzar
su cascada de espuma,
y en primavera, amor,
quiero tu risa como
la flor que yo esperaba,
la flor azul, la rosa
de mi patria sonora.

Riete de la noche,
del día, de la luna,
ríete de las calles
torcidas de la isla,
ríete de este torpe
muchacho que te quiere,
pero cuando yo abro
los ojos y los cierro,
cuando mis pasos van,
cuando vuelven mis pasos,
niégame el pan, el aire,
la luz, la primavera,
pero tu risa nunca
porque me moriría.