domingo, 2 de junho de 2019

Instantes

"Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico.
Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida: claro que tive momentos de alegrias.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um paraquedas; se voltasse a viver, viajaria mais leve. 
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo". 

Esse texto foi escrito pelo escritor argentino Jorge Luiz Borges, que faleceu na Suíça em 1987. Encontrei esse texto no textos guardados por minha mãe e com três tópicos anotados à mão:
1. Não tenho 85 anos...
2. Não estou morrendo...
3. Posso mudar minha vida! O que fazer?

As anotações me mostraram muito do que minha mãe viveu em seus últimos anos. Ela só não sabia que estava morrendo.
Amanhã, dia 02/06/2019, completará 2 anos de sua Passagem, e suas reflexões ainda me ensinam a viver melhor. Ninguém sabe a hora da sua partida. Talvez até na própria hora ainda posso haver dúvidas.
Esses dois anos tem sido muito difíceis e dolorosos, sem minhas referências de vida. Mas tenho me esforçado para aprender com os ensinamentos que minha mãe querida me deixou. Acredito que compartilhando-os, quando possível, poderei deixar seu legado à mais pessoas.
Te amo minha mãezinha! Um dia nos encontramos e poderemos saber se pude viver como você gostaria de ter vivido.
Namastê!