sábado, 1 de dezembro de 2018

Fernando Pessoa

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...


sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Um brinde à minha filha!

Sabe o que realmente separa meninos de homens? A paternidade.
Aprendi isso no dia que vi minha menina nascer à exatos 23 anos! Foi uma tarde atípica nas vidas de todos nós que estávamos envolvidos no início dessa linda história.
História que se desenha ainda em suas primeiras páginas de muita determinação, autoconhecimento e encantamento com o que se viveu até então.
Minha pequena notável, de mente brilhante, que sua avó chamava de "minha Gênia", de personalidade forte, intransigente ao defender o que acredita, carinhosa e amiga de seus amigos, forte em suas escolhas, persistente em buscar seus sonhos e linda, aos meus olhos de eterno pai babão.
Sinto muita falta do seu convívio diário, embora saiba das brigas que deixamos de ter por essa falta também. Mas que fortalecem nossa relação com muita verdade e intensidade.
Meus parabéns à minha Fernanda! Que seu dia seja muito mais especial que o normal e que tenha um Feliz Aniversário repleto de boas risadas e abraços sinceros!
Que minha primogênita seja uma mulher de bem e de fibra.
No final do ano estaremos juntos e estou mais ansioso que você para nos vermos novamente. Dessa vez com o Gabriel junto!
Um beijo grande de admiração desse seu pai te tanto te ama!


quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Meu Amigãozão

Há pessoas que tem filhos, e são muito felizes por isso. Há pessoas que são muito felizes por terem grandes amigos. Há outras pessoas que conseguem ser amigos de seus filhos. Há os que são filhos de seus amigos. E, certamente, há eu e Gabriel. Meu filho, meu amigo, meu parceiro e um dos meus grandes tesouros. Não há felicidade maior. Pode haver igual, porém maior.... duvido!
Meu pequeno grande GB, como ele se chama, Biel Baeta, completa 9 anos de idade. Bem vividos e com muito mais a viver e descobrir nesse mundão de meu Deus.
Que o dia de hoje seja muito intenso em alegria, bom humor, saúde e afeto. E que seu Anjo da Guarda sempre o proteja e o ajude a ser um homem de BEM.
No final do ano vou juntar meus dois amores, Fernanda e Gabriel, e dar uma volta pelo RJ e por MG. Estamos todos ansiosos, mas tenho certeza que escreveremos muitas histórias e lembranças boas.
Meu pequeno desenhista, que adora brincar, fazer amigos, ir à praia, mergulhar em piscina, jogar bola, kung fu, bicicleta, correr, dar susto quando estamos distraídos, andar de skate, música, dançar e agora entrando nesse mundo virtual dos games e youtubers! Já gostou mais de ler, mas ainda insistimos... uma hora o sangue falará mais alto.
Meu filho.
Lhe desejo um mundo de coisas boas e gente do bem para você conquistar e conhecer. Seu pai estará sempre ao seu lado. Em todas as decisões, todos os sorrisos, para conter eventuais lágrimas ou te ajudar a levantar. Física ou espiritualmente. Não importa, estarei sempre lhe protegendo.
Meus mantras, todos, passam pelo seu nome e de sua irmã.
FELIZ ANIVERSÁRIO BIEL!!!!! Um Grande Salve Jorge ao Gabriel!!!!! 
Parabéns e curtiremos muito seus 9 aninhos!!!!!
Te amo!





 

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Hoje é o dia da saudade!

O Dia de Finados tem muitos significados, mas todos eles terminam com grandes saudades. Como as que sinto de muitas pessoas queridas que me deixaram. Duas, em especial, por serem mais recentes e mais marcantes na minha vida, me deixam com os olhos rasos d'água. Minha mãe e minha avó Joana. Essa semana completou cinco anos sem Dona Joaninha, e há pouco mais de um ano me separei fisicamente de minha mãe, Dona Dotye.
Certa vez, viajei com minha mãe para conhecer o fascinante Uruguai, e conhecemos as diversas lendas que rondam a Calle de los Suspiros, na charmosa cidade de Colonia Del Sacramento, ao sul do país. Mas hoje a Rua dos Suspiros pode estar em Natal, em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro, ou em outras cidades saudosas desses abraços raros e ensinamentos constantes.
Parafraseando o poetinha..."e por falar em saudade...por onde andam vocês???"
Queria que o dia de hoje fosse alegre como é percebido no México.
Alguém me disse que um dia a saudade se ameniza e viram boas lembranças. Mas já ouvi dizer que a dor persiste. Atualmente a segunda opinião tem me despertado mais sensações.
Há pouco fiz com meu pequeno Gabriel, e com Vivi, a nossa já tradicional oração de boa noite, que fazemos sempre que estamos juntos, antes de dormir. Mentalizando coisas positivas. E deixamos nossas mensagens saudosas à ambas e aos demais entes que ainda amamos muito e não mais se encontram entre nós. Espero que nossa fé tenha sido tão forte que nos tragam de volta a energia de um bom beijo saudoso de planos distintos. De fato, uma brisa leve me fez refletir sobre tudo isso. E compartilhar com os corações que nos acompanham.
Que a saudade de todos nós reforcem as correntes da boa fé. Seja qual for a sua religião ou crença. Pois acredito que toda religião quando bem praticada só pode fazer o bem!
À minha mãezinha e minha avó deixo aqui meu beijo de quem ainda chora demais pela falta que me fazem, mas que sorri com as lembranças do bom combate que foi nossa vida até então!
A vida continua.... até o nosso reencontro!


 

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Vinícius de Moraes

Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...


domingo, 14 de outubro de 2018

Que dia é hoje???

O destino é realmente imprevisível, embora já escrito sempre. Quem diria que um irmão caçula, conhecidamente levado e peralta se tornaria um homem responsável, de bem e depois se tornasse "mãe"!!!! Como assim? Complicado, parece. Mas vou explicar.
Meu núcleo familiar foi formado por meu pai que nos deixou muito cedo, por um acidente de carro. Por minha mãe, que nos deixou ano passado, e que assumiu a batalha de criar dois filhos. Contou com a ajuda de minhas avós, paterna e materna. Uma mais de perto e outra, embora mais distante, sempre presente. Claudio, meu irmão caçula, sempre foi muito parecido com meu pai. Semelhança que lhe custou muitas cobranças a vida toda. 
Meu irmãozinho sempre foi muito ativo e cheio de energia. Aprontava muito, como todo menino saudável. Mas, muitas vezes se excedia. Brigávamos demais. Dois meninos com um ano e meio de diferença de idade.
Sempre admirei sua coragem, sua força de vontade e sua energia. Eu era mais tímido. Por incrível que pareça hoje em dia. Eu era o acanhado dos dois.
Ele aprontava mais, e por consequência, ganhava mais broncas e castigos. Temos gostos muito diferentes para música, comida e viagens, mas sempre nos amamos. Cada um do seu jeito. Nunca fomos de falar sobre essas coisas mais emocionais.
Apesar de arteiro ele sempre foi mais sensível que eu, embora atualmente eu seja um chorão assumido.
Esse meu pequeno irmão cresceu, mais que eu, tem 1,90m, se casou, virou pai, se separou e casou de novo. Hoje frequenta à igreja, é um homem de fé. Aprendeu a estudar um pouco mais tarde, mas é um batalhador. Se escrevesse um livro de suas andanças acho que daria uma novela da Globo. Daquelas boas.
De tantas broncas e conselhos que ganhou de nossa mãe e nossas avós virou meu conselheiro. Além de minha inspiração. 
Lembro que minha mãe me contou que quando minha tia avó faleceu ela assumiu seu papel de conselheira de minha avó. Sempre foram muito amigas, e esse novo papel as uniu mais ainda.
Com a Passagem de minha avó eu assumi essa responsabilidade com minha mãe. O que foi muito difícil, mas muito bom. Viajamos sozinhos, conhecemos melhor um ao outro. Mas foi muito breve. E pior, me acostumei. Sinto muita falta de conversar com nossa mãe. 
Meu irmãozinho que virou meu Monstrinho Favorito, por ser muito alto e forte, teve de herdar esse papel. Hoje, do nosso núcleo familiar inicial, só temos um ao outro.
Que bom que esse núcleo cresceu também com nossos filhos e esposas.
Com isso, meu irmão é minha mãe também, quando precisamos conversar. Assim como eu sou a dele.
Tudo isso para dizer que o dia de hoje fica muito mais especial que há anos atrás. Hoje celebramos as primaveras do meu irmão, que amo, e que faz as vezes de minha mãe postiça.
Feliz Aniversário Maninho!
Muita saúde para aguentar meus desabafos, muitas felicidades, sorrisos, piadas boas, músicas nem tanto, abraços, beijos e brindes!!!!
No fim do ano estaremos juntos em BH!
Namastê!!!!!




 

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Quem é ela?


Soneto da Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quanto mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
 Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinícius de Moraes 

domingo, 30 de setembro de 2018

Política e Amigos se misturam, mas não se excluem!

Quanto mais se aproximam as eleições mais o nosso país se assemelha à um campo de batalhas. Intolerância e ódio prevalecendo sobre o bom senso e a análise crítica.
As escolhas são difíceis e estão a cada ano piores, mas não podemos desistir de ideais e esperança em dias melhores.
Dias em que não se desfaça uma amizade por discordar da forma como cada um pensa. O que pensamos sobre política ou sobre liberdade não pode ofuscar o sentimento que temos uns pelos outros. Nossos amigos tem o direito até de pensar de forma equivocada sobre política, isso sim é democracia. O que não podemos permitir é a falta de sorrisos e abraços nesses dias complicados que vivemos.
Não defendo nenhuma bandeira, mas não concordo com essa onda de acusações, sejam elas fundamentadas ou infundadas. Não precisamos de culpados, e sim de diálogo.
Deveríamos estar nos perguntando ou ouvindo de nossos possíveis candidatos questões como: como promover a inclusão social? como fazer com que a camada mais pobre da população tenha acesso à alimentos orgânicos e saudável ou mesmo às energias limpas e alternativas? Como popularizar a energia solar fotovoltaica? Como eliminar a falta de acesso à água no sertão? Como fortalecer as maiores geradoras de empregos formais no país, as micro e pequenas empresas? Como fazer do SUS um exemplo de saúde pública em um país onde os funcionários pagos pelo Governo tem planos de saúde privados? Como inserir os jovens formalmente na nova economia aberta e inclusiva? Como promover uma política agrícola que beneficie pequenos produtores rurais sem se limitar ao PRONAF? Como enxugar a máquina pública e aumentar a sua eficiência? Como repensar a educação em tempos globalizados e de economia compartilhada? Como .....
Pois bem, qual é o motivo de não ouvirmos essas e outras perguntas vindas da grande mídia? Não deveria ser essa a linha de questionamentos para se pensar em um país melhor?
Como numa boa e velha mesa de bar, a política e os amigos podem sim se misturar. Mas nunca se excluírem. 
Bráulio Bessa traduziu bem esse sentimento em sua poesia com rapadura no vídeo abaixo:





segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Vivi & eu

Hoje é um dia mais do que especial. Momento de celebrar, de agradecer à Deus a dádiva de se encontrar em outra pessoa.
Difícil o exercício da busca, imaginar alcançar a cumplicidade e a conexão de almas. Às vezes, em nossas vidas, duvidamos. Acreditamos que pode ser utópico, coisa de novela, de livros de romances, ou coisas do gênero.
De fato, tudo isso já passou por minha mente.
As imperfeições da minha humanidade, assim como as de todos nós, nos fazem dificultar uma busca como essas.
Mas o que posso dizer é que isso existe. A busca compensa. Tropeços e sensações de autossabotagem sempre se farão presentes, porém só fortalecem os sentimentos dessa caminhada.
Demorei, mas segui minha intuição. Apostei alto. Saí da minha zona de conforto e fui buscar longe dos meus domínios.
Certa vez, ao ser questionado por minha mãe, eu a respondi: eu só sei que é pra lá que tenho de ir, pois alguma coisa me diz que lá encontrarei o que procuro.
Minha vida ficou mais colorida, mais intensa, mais tenra, mais dinâmica, mais divertida, mais desafiadora, mais romântica, mais Vivi.
Por essa razão quero agradecer ao Cosmo por ter lhe encontrado. Por ter permitido compartilhar nossas vidas.
Hoje é o aniversário da pessoa mais importante na minha vida, minha soma. Alguém que ressignificou meus laços familiares e fortaleceu meus propósitos de vida.
Parabéns à minha Vivi. Ontem apenas Vivi, hoje metade de mim. 
Que seu dia seja lindo e intenso como tudo o que você proporciona aos que estão à sua volta.
Te amo cada dia mais.
Vivi, vidi e vencemos!
Namastê!!!!




 

sábado, 1 de setembro de 2018

Charles Chaplin

"A beleza é a única coisa preciosa na vida. É difícil encontrá-la, mas quem consegue descobre tudo".

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

domingo, 1 de julho de 2018

Nelson Mandela

"Não há nada como regressar a um lugar que está igual para descobrir o quanto a gente mudou".

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Pablo Neruda

"Nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria".


segunda-feira, 30 de abril de 2018

Te amo, mãe!

O dia de amanhã para mim sempre foi sinal de feriado. Não por conta do Dia do Trabalhador, mas pelo Dia Internacional da minha Mãe. Amanhã será o primeiro dia da minha vida no qual eu não conseguirei implicar e dar o Feliz Aniversário à Dona Dotye.
Minha mãe sempre foi arisca com essa data. Esse era o dia que ela evitava, pois era o dia em que ficava mais velha. Fugia de todos. Ficava em casa sem atender ninguém. Mas no dia seguinte conferia todos os recados na sua "secretária eletrônica" e não gostava de quem a esquecia. Coisas dela.
Mas algumas pessoas ela sempre atendia. Eu e meu irmão éramos algumas delas. Afortunados.

Mãe,

Receba meu beijo e meu abraço pelo seu dia, que sempre será seu. 
Como escreveu um compositor: "você não me ensinou a te esquecer, você só me ensinou a te querer, e te querendo vou tentando te encontrar. Vou me perdendo..."
O resto da música não é pra gente, mas esse pedaço somado à uma outra estrofe de outra música, sim, valem. Dizendo, "sorria e abrace seus pais enquanto estão aqui, que a vida é trem bala, parceiro, e a gente é só passageiro prestes a partir".
Trem bala de fato. Sorri, te abracei, te beijei e lhe disse muitas vezes que te amo. Seus ensinamentos e sua luta fizeram de mim um homem melhor, assim como ao meu irmão.
Mas não aprendi a ser tão forte como vocês. São muitas as lembranças, mas muito mais são as experiências que não vivemos, e que poderíamos ter vivido. Trem bala.
Hoje foquei no trabalho e por algum tempo pude não pensar muito em amanhã, mas tenho certeza que devastador será o próximo Primeiro de Maio.
Sei que estás bem, mas sua falta, seus conselhos, suas broncas, seu abraço.... me fariam bem melhor.
Descanse em paz. Nos dê força para superar e compreender.

Outro beijo,
ANGELO

 

domingo, 1 de abril de 2018

José Saramago

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar".

quinta-feira, 1 de março de 2018

Miyamoto Musashi

"Não existe nada fora de você que permita que você se torne melhor, mais forte, mais rico, mais rápido ou mais inteligente. Tudo vem de dentro. Tudo existe. Não procure nada fora de si mesmo".



quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

domingo, 28 de janeiro de 2018

Portugal e seus requintes literários

Quando fui à Portugal tentei refazer passos de alguns de meus ídolos da literatura. Um deles, sem dúvidas, é José Saramago. Pude conhecer a beleza e o tesouro cultural que é a Fundação José Saramago, na Casa dos Bicos, Largo das Cebolas, em Lisboa. Apesar das cebolas...

Um dos muitos textos que pude ler por lá, esse me deu uma aula de história lusitana e resolvi compartilhar por aqui. Espero que desfrutem como eu ainda hoje o faço.


Palavras para uma cidade
José Saramago

Tempo houve em que Lisboa não tinha esse nome. Chamavam-lhe Olisipio quando os Romanos ali chegaram, Olissibona quando a tomaram os Mouros, que logo deram em dizer Achbouna, talvez porque não soubessem pronunciar a bárbara palavra. Quando, em 1147, depois de um cerco de três meses, os Mouros foram vencidos, o nome da cidade não mudou logo na hora seguinte: se aquele que iria ser o nosso primeiro rei enviou à família uma carta a anunciar o feito, o mais provável é que tenha escrito ao alto Aschbouna, 24 de Outubro, ou Olissibona, mas nunca Lisboa. Quando começou Lisboa a ser Lisboa de facto e de direito? Pelo menos alguns anos tiveram de passar antes que o novo nome nascesse, tal como para que os conquistadores Galegos começassem a tornar-se Portugueses... Essas miudezas históricas interessam pouco, dir-se-á, mas a mim interessar-me-ia muito, não só saber, mas ver, no exacto sentido da palavra, como veio mudando Lisboa desde aqueles dias. Se o cinema já existisse então, se os velhos cronistas fossem operadores de câmara, se as mil e uma mudanças por que Lisboa passou ao longo dos séculos tivessem sido registradas, poderíamos ver essa Lisboa de oito séculos crescer e mover-se como um ser vivo, como aquelas flores que a televisão nos mostra, abrindo-se em poucos segundos, desde o botão ainda fechado ao esplendor final das formas e das cores. Creio que amaria a essa Lisboa por cima de todas as cousas. Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória. Memória que é a de um espaço e de um tempo, memória no interior da qual vivemos, como uma ilha entre dois mares: um que dizemos passado, outro que dizemos futuro. Podemos navegar no mar do passado próximo graças à memória pessoal que conservou a lembrança das suas rotas, mas para navegar no mar do passado remoto teremos de usar as memórias que o tempo acumulou, as memórias de um espaço continuamente transformado, tão fugidio como o próprio tempo. Esse filme de Lisboa, comprimindo o tempo e expandindo o espaço, seria a memória perfeita da cidade. O que sabemos dos lugares é coincidirmos com eles durante um certo tempo no espaço que são. O lugar estava ali, a pessoa apareceu, depois a pessoa partiu, o lugar continuou, o lugar tinha feito a pessoa, a pessoa favia transformado o lugar. Quando tive de recriar o espaço e o tempo de Lisboa onde Ricardo Reis viveria o seu último ano, sabia de antemão que não seriam coincidentes as duas noções do tempo e do lugar: a do adolescente tímido que fui, fechado na sua condição social, e a do poeta lúcido e genial que frequentava as mais altas regiões do espírito. A minha Lisboa foi sempre a dos bairros pobres, e quando, muito mais tarde, as circunstâncias me levaram a viver noutros ambientes, a memória que preferi guardar foi a da Lisboa dos meus primeiros anos, a Lisboa da gente de pouco ter e de muito sentir, ainda rural nos costumes e na compreensão do mundo. Talvez não seja possível falar de uma cidade sem citar quantas datas notáveis da sua existência histórica. Aqui, falando de Lisboa, foi mencionada uma só, a do seu começo português: não será particularmente grave o pecado de glorificação... sê-lo-ia, sim, ceder àquela espécie de exaltação patriótica que, à falta de inimigos reais sobre que fazer cair o seu suposto poder, procura os estímulos fáceis da evocação retórica. As retóricas comemorativas, não sendo forçosamente um mal, comportam no entanto um sentimento de auto-complacência que leva a confundir as palavras com os actos, quando as não coloca no lugar que só a eles competiria. Naquele dia de Outubro, o então ainda mal iniciado Portugal deu um largo passo em frente, e tão firme foi ele que não voltou Lisboa a ser perdida. Mas não nos permitamos a napoleônica vaidade de exclamar: "Do alto daquele castelo oitocentos anos nos contemplam" - e aplaudir-nos depois uns aos outros por termos durado tanto... Pensemos antes que do sangue derramado por um e outro lados está feito o sangue que levamos nas veias, nós, os herdeiros desta cidade, filhos de cristãos e de mouros, de pretos e de judeus, de índios e de amarelos, enfim, de todas as raças e credos que se dizem bons de todos os credos e raças a que chamam maus. Deixemos na irónica paz dos túmulos aquelas mentes transviadas que, num passado não distante, inventaram para os Portugueses um "dia da raça", e reinvidiquemos a magnífica mestiçagem, não apenas de sangues, mas sobretudo de culturas, que fundou Portugal e o fez durara até hoje. Lisboa tem-se transformado nos últimos anos, foi capaz de acordar na consciência dos seus cidadãos o renovo de forças que a arrancou do marasmo em que caíra. Em nome da modernização levantam-se muros de betão sobre as pedras antigas, transtornam-se os perfis das colinas, alteram-se os panoramas, modificam-seos ângulos de visão. Mas o espírito de Lisboa sobrevive, e é o espírito que faz eternas as cidades. Arrebatado por aquele louco amor e aquele divino entusiasmo que moram nos poetas, Camões escreveu um dia, falando de Lisboa: "...cidade que facilmente das outras é princesa". Perdoemos-lhe o exagero. Basta que Lisboa seja simplesmente o que deve ser: culta, moderna, limpa, organizada - sem perder nada da sua alma. E se todas estas bondades acabarem por fazer dela uma rainha, pois que o seja. Na república que nós somos serão sempre bem-vindas rainhas assim.

Fonte: Folhas Políticas 1976-1998, Caminho, 1999, pp 178-182.



 

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Desabafo de um motorista zen

Não faço ideia como alguns motoristas conseguem dirigir sem a menor noção de trânsito.
Tampouco como conseguem suas habilitações, quer dizer, até posso imaginar.
Aos amigos juristas a pergunta... não é crime permitir a emissão dessas carteiras a essas pessoas?
Dificilmente se vê o uso da seta, mas quando se usa...bom, é bom lembrar que a seta NÃO é uma PERMISSÃO automática para fazer uso do caminho. Não é informativa e afirmativa. É uma SOLICITAÇÃO de permissão para seguir naquela direção. Lembrando que, como toda a solicitação, está sujeita ao aceite ou não de quem é solicitado. Temos de esperar a decisão de quem solicitamos.
Sei que para alguns pode parecer complicado, mas espero que não seja aos meus amigos.
Muito difícil dirigir sem regras. Imagina na Índia como eles se entendem.

 

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Um brinde à vida!

Algumas lutas vem de batalhas que travamos na vida, e só ganha quem delas se empoderam. E a encaram de frente.
Só quem vive suas lutas e batalhas que sabe o preço e o valor de suas conquistas, ou o aprendizado e sabedoria das suas derrotas.
Cada um luta da sua maneira, e eu, ah, eu tenho a minha maneira. 
Poucas pessoas sabem, ou lembram, mas hoje foi meu aniversário. Celebro duas vezes ao ano. Tenho essa sorte. Tenho o dia 24/07 que é meu aniversário de nascimento e o dia de hoje, 16/01, meu aniversário de REnascimento. Há exatos cinco anos tive a oportunidade de viver novamente, após um infarto no sul do Chile. Pessoas generosas e extremamente profissionais me ajudaram a sair dessa, além das diversas manifestações religiosas de amigos, parentes e desconhecidos que convivi na UTI. A presença da minha mãe foi muito importante, só ela lembrava todos os anos desse dia. Ao longo de quatro anos. Esse ano ela não me ligou, mas pude sentir sua presença.
A vida tem que seguir seu fluxo natural, e vou remando, mas à favor da boa maré.
Quero deixar meu abraço à todos os meus amigos que de alguma forma tiveram outras chances de renascer nessa vida. E mais abraços aos que não tiveram, mas sabem combater o bom combate. Com a força do bem.
Um brinde à vida! 


segunda-feira, 1 de janeiro de 2018