segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Após o Dia dos Pais

Ontem foi um dia que sempre me tocou. Desde pequeno aprendi a driblar essa data, guardando no peito a tristeza da falta de abraços. Com um ano de idade perdi meu avô paterno e com um ano e meio perdi meu pai. Meu padrinho e tio-avô se foi poucos meses depois.
Cresci sem a figura paterna, embora com muitos tios maternos que me ajudaram muito, e com o tempo aprendi a ignorar datas como essa. Ao menos externamente.
Era difícil para uma criança ir à escola nessa época e ter de fazer desenhos e brinquedos em homenagem aos pais. E reuniões dos pais? Inocente, ficava com vergonha de ver minha mãe participando junto à outros pais.
Minha mãe foi minha pãe. Tenho certeza que ela fez o melhor que pôde e que surtiu efeito, mas essa fase foi muito complicada de ser internalizada.
Com o passar dos anos, essa passou a ser uma data esquecida e não celebrada.
As histórias que lembro de meu pai não foram vividas comigo, mas por meus parentes que me contavam, especialmente minhas avós. Embora ele sempre tenha estado ao meu lado.
Cresci e como toda evolução: o homem nasce, cresce...fica burro e casa. rs
Brincadeira! Para não perder o costume e deixar a coisa mais leve.
Mas com o tempo eu pude receber da vida o maior presente de um homem. Ter filhos.
Quando temos filhos, e filhos lindos como os meus, aprendemos a perceber a grandeza e a responsabilidade de poder ajudar a formar pessoas. Isso, por si, nos faz crescer além das estrelas. E me fez dar outro sentido a essa data. Me fez fazer dessa data a necessidade de transportá-la para todos os outros dias do ano. Devíamos ter o dia dos filhos.
Amo meus filhos mais que tudo.
Desde pequeno sempre conversei muito com meu pai. Em orações. Sempre o senti por perto. E, o que poucas pessoas sabem, pude ter a materialização da minha fé, e no momento mais difícil da minha vida.
Quando infartei e estava prestes a ser removido do hospital em Chillán, no Chile, para o hospital de Concepción de ambulância, já estava quase tendo um segundo infarto. O que teria sido fatal se o tivesse.
Estava delirando e com uma oscilação de pressão violentamente assustadora. Desde que fui internado estava entubado e sem uma peça de roupa, sem um telefone...nada, só um pequeno lençol. Após algumas informações truncadas e bagunçadas pelos meus delírios entendi que minha família, que comigo estava, estivesse me aguardando em Santiago, há 400 Km aproximadamente de onde eu estaria indo. Isso me desesperou. Os enfermeiros tentavam me acalmar dizendo que estaria tudo bem.
Quando cheguei ao hospital em Concepción fui direto à sala de cirurgia, pois meu estado estava muito crítico.Lá estando começou o procedimento de preparação para a cirurgia e eu no centro disso tudo. Nesse momento se fez um silêncio. Enfermeiros fazendo preparativos, médicos colocando luvas e afins, todo mundo conversando sobre situações de seus cotidianos e novamente....em no meio. Foi quando pensei comigo: "Estou ferrado. Vou morrer. Estou sozinho, sem um documento, longe das pessoas que conheço, em uma cidade estranha...vou rezar. E fechei meus olhos e rezei com bastante vontade. Quando estava rezando senti uma mão grande e fria encostando em meu peito. Pensei comigo: esse povo não vai nem deixar eu concluir minha orações. Ao abrir os olhos, minha surpresa. Em pé, materializado na minha frente e com a mão direita no meu peito: meu pai. Eu de olhos abertos. Vendo meu pai. E ele me disse: "Meu pequeno, vai dar tudo certo. Estou aqui do seu lado. Ainda não é a sua hora. Faça tudo o que eles mandarem. Ainda não é a sua hora". Essas palavras me encheram de força, pensei no que dizer ao meu pai, em frações de segundos, e fechei meus olhos, enchi de coragem e inspiração, e ao falar, abri os olhos...e o silêncio se desfez...médicos, enfermeiros e equipamentos faziam muito barulho e meu pai não mais estava materializado na minha frente. Relaxei, pois sabia que de alguma forma, ali ele estava.
Essa passagem fez com que eu pudesse encarar com mais tranquilidade e leveza o convívio de mais de 10 dias na UTI. As enfermeiras não entendiam, nem poderiam. Mas eu pude ter a força do meu pai. Como ele sabe que sou teimoso: aquela parte dele dizendo para fazer tudo que me mandassem foi cumprida à risca. À duras, porém compensadoras penas.
Alguns dias depois, minha mãe veio do Rio de Janeiro me visitar em Concepción. Quando chegou eu a vi meio atordoada e ela me abraçou e perguntou: você sentiu esse cheiro. Perguntei: que cheiro?, ela disse: Estranho, pensei ter sentido o cheiro do seu pai. No que respondi, após contar essa história: e é dele mesmo, ele está aqui.

Dali em diante essa data sempre será celebrada.

FELIZ DIA DOS PAIS!!!! Aos PAIS, PÃES e aos que, mesmo não sendo, se sentem como se fossem!!!!