terça-feira, 1 de outubro de 2013

A linguagem da arte

Chinolope vendia jornais e engraxava sapatos em Havana. Para deixar de ser pobre, foi-se embora para Nova York.
Lá, alguém deu de presente a ele uma máquina de fotografia. Chinolope nunca tinha segurado uma câmera nas mãos, mas disseram a ele que era fácil:
- Você olha por aqui e aperte ali.
E ele começou a andar pelas ruas. Tinha andado pouco quando escutou tiros e se meteu num barbeiro e levantou a câmera e olhou por aqui e apertou ali.
Na barbearia tinham baleado o gângster Joe Anastasia, que estava fazendo barba, e aquela foi a primeira foto da vida profissional de Chinolope.
Pagaram uma fortuna por ela. A foto era uma façanha. Chinolope tinha conseguido fotografar a morte. A morte estava ali: não o morto, nem o matador. A morte estava na cara do barbeiro que a viu.

Eduardo Galeano
In: O Livro dos Abraços.


Um comentário:

  1. "A morte estava ali: não o morto, nem o matador. A morte estava na cara do barbeiro que a viu".
    Isso é mais que talento. Deve ser um gene raro. Me lembro qdo li Budapeste do Chico, e ele falando ao telefone com a mulher que não via há tempos, que "parecia que ela tinha rugas na voz". Como é que faz isso?
    Obrigada por dividir esse pedacinhos de arte que vc acha por aí.

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