quarta-feira, 25 de abril de 2012

Como conviver com a sêca no nordeste?

A realidade no nordeste brasileiro tem me dado uma oportunidade ímpar de crescimento pessoal e me proporcionando muitos aprendizados. 
O novo desafio agora é como aceitar ou entender que políticas públicas gastem milhões em sonhos metropolitanos de transporte de massa nos modelos de filmes japoneses, como trens balas, teleféricos caríssimos em favelas, acessibilidade urbana e ao mesmo tempo permitam cenários desesperadores de morte e tristeza no semi-árido nordestino?
Há municípios, entendam...municípios, sem água há mais de três meses. Pessoas que há 3 anos convivem sem água, sendo obrigadas a andar por quilômetros em troca de um balde com água.
Como defender cidadania e acento nas decisões da ONU se não fazemos o nosso dever de casa? Essas pessoas não tem acesso às mídias sociais e televisivas para reivindicar qualquer direito. E não são poucas.

Por isso, quero compartilhar um texto, escrito pelo engenheiro, consultor e pecuarista Hermínio Brito, que além de tudo é irmão do nobre amigo Acácio Brito.
Recomendo a leitura e que repassem adiante. Como dito por Acácio: "a situação vivida hoje pelos sertanejos requer a mobilização de todos, com vistas à busca de alternativas".


A SECA PAIRA NOS HORIZONTES DO SERTÃO POTIGUAR

Já se passou o natal e o ano novo, já se foi carnaval, o dia de São José já passou, e a chuva não veio para molhar as terras do meu tórrido sertão. Todo dia olho para o céu, e nada, o máximo que vejo é a ilusão de nuvens carregadas, que se desfazem com o vento, misturado com relâmpago e trovões.
Os que não são nordestinos devem pensar... lá vem estes flagelados de novo, será que este povo nunca vai aprender? Não tiro a razão de quem pensar assim, afinal, esta história já foi contada muitas vezes. Nós colhemos as consequências das escolhas que fizemos e que fazemos.
O maior problema não é a falta de chuvas regulares, é como se ter água para utilizar regularmente. E ter água para se utilizar regularmente não é tarefa de um produtor rural, é tarefa de uma sociedade.
Como um único produtor pode fazer previsões meteorológicas? Estas previsões podem nos ajudar a fazer planejamento. E o que tivemos este ano? A EMPARN (que agora se cala) afirmando que teríamos uma estação chuvosa NORMAL. Como não acreditar nestes doutores, que estudaram e usam satélites e computadores poderosos?
Enquanto os agricultores e pecuaristas se descabelam em busca de salvar suas próprias vidas, das suas lavouras, e dos seus animais, os governos se omitem, e as pessoas que moram nas cidades ignoram.
Afinal a globalização permite que enquanto o gado morre de fome nas caatingas o bife continue sendo servido nas mesas das cidades; enquanto as vacas e seus bezerros morrem de fome no campo, o leite continua sendo servido normalmente nos iogurtes, cremes de leite, sorvetes, sucos, bolos, milk-shakes, bebidas lácteas, manteigas, requeijões, queijos; enquanto as lavouras e agricultores estorricam nos roçados o feijão, arroz, milho, batata, mandioca, não estão faltando nas mesas dos urbanos. Quem manda viver e produzir no campo?
Enquanto os produtores franceses são pagos pela sociedade para se manter produzindo no campo, os nordestinos do campo não tem as bacias dos rios interligadas, permitindo a perenizarão dos rios secos; não tem poços profundos permitindo que se faça irrigação de seus pastos e lavouras; a concessão dos créditos bancários é lento, burocrático e acessível a poucos; a assistência técnica, inexiste ou é precária; a energia elétrica é cara e requer grandes investimentos para instalar.....
Até quando a globalização vai maquiar estas mazelas no campo? Até quando vai sobrar dinheiro público para a corrupção e faltar para os investimentos que só a sociedade pode bancar? Até quando teremos governos inoperantes, incompetentes, perdulários em propagandas e mesquinhos em ações estruturantes e sustentáveis? Até quando... vamos aguentar?
Por enquanto, aparentemente, estes são problemas apenas dos que produzem no campo, mas, tenham certeza, no futuro serão problemas de todos nós!

Herminio Brito
Natal, em 05 de abril de 2012.













Foto: Joel Selva 

Um comentário:

  1. Eu nasci no sertão e nesses meus anos de vida muita coisa já ouvi, mas nada, nenhuma ação dos que "podem" resolve, às vezes só melhora um pouco, a situação dos que não tem alternativa para escapar da seca. Mas existem lugares onde nem esse pouco chega. É tão lastimável! Até quando nós continuaremos acreditando e votando em quem não quer ajudar?

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