segunda-feira, 15 de maio de 2017

O que será dos produtores rurais?

Quando estudei Agronomia, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, me indagava sobre um tema comum no meio agropecuário, o exôdo rural. Ainda jovem ficava pensando o que faria com que as pessoas desistissem de suas propriedades e sua forma de viver para buscar alternativas em centros urbanos?
Há anos venho trabalhando com desenvolvimento rural e a resposta àquela inquietação fica cada dia mais clara.
Temos três aspectos importantes nessa discussão. O primeiro é que os jovens de hoje tem outro perfil, mais globalizado, mesmo nas propriedades de mais difícil acesso. O que compromete em parte a sucessão familiar na atividade agropecuária.
O segundo ponto é a educação do nosso povo brasileiro que anda em baixa e não mais fortalece os vínculos familiares, as religiões, a cultura e as tradições. Quando nos afastamos disso, e o pior, por falta de acesso, nos afastamos dos princípios que dignificam a nossa tradicional agricultura familiar.
O terceiro ponto, e mais cruel, é a falta de políticas públicas de desenvolvimento rural e urbano para o nosso país. Políticas de longo prazo, estruturantes para um futuro digno a quem queira produzir.
Como ser agricultor familiar no Brasil sem recursos? Recursos físicos, edafoclimáticos, financeiros, econômicos ou mesmo recursos familiares? 
Por que, de alguma forma, as águas que inundam algumas regiões no Brasil não podem ser usadas para dar alento onde as secas imperam? Por que um pequeno produtor não tem acesso à crédito para sua produção de forma efetivamente diferenciada? Por que a taxa tributária e as normas de regulamentação nacional desfavorecem que quer industrializar sua produção rural e, assim, agregar maior valor ao que produz? Por que as energias alternativas, como a solar e a eólica, tão presentes no nosso nordeste, ainda são para poucos? Por que as regiões do nosso país não possuem integração efetiva? Por que dispomos de bilhões para construção de estádios de futebol e arenas multiuso, mas não temos estradas, portos e ferrovias para facilitar a logística de nossos produtos? Por que um produtor rural não pode se formalizar para alçar novos vôos sem perder seus direitos como trabalhador rural? Por que a água, bem essencial para a vida, não chega e não se propõe alternativas para que chegue ao semiárido? Por que nossos mares não podem ser dessalinizados para fornecer água potável a quem não tem? Por quê?
São tantos porquês que não se encerrariam em um simples blog. 
O produtor rural, e especialmente o agricultor familiar, é um guerreiro por natureza. Empreender no campo hoje, quando tudo se mostra desfavorável, é desigual. Principalmente quando o país não olha como devia. Mas, será que um dia o país se dará conta que no médio prazo pode não haver mais tantos guerreiros? Se seus filhos não quiserem mais? Quem produzirá os alimentos que tanto gostamos de consumir em nossas mesas? Será que o brasileiro se acostumará com as nossas commodities? Teremos grãos, carnes, leite e derivados, e???? Será que para produzir, mesmo esses produtos com perfil de grandes propriedades, não precisamos de outros produtos que só a agricultura familiar se dispõe a produzir?
Como será a lembrança de nosso queijos artesanais, de coalho, da canastra, e tantos outros? Daquela linguiçinha mineira? De um tucunaré assado? Do chá de boldo, quando tudo embrulha? E aquela cachaça artesanal? E o pequi em Goiás? E o cordeiro dos pampas? O porco no rolete no Paraná? E nossas saladas? E as batatinhas? Nossos orgânicos? E tantos outros?
Me preocupa o silêncio dos bons, como dizem por aí, e a inércia de quem tem o poder para mudar essa realidade.
A dúvida que fica é....o que será dos produtores rurais??? 


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