terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Relato: o que aprendi em Teresópolis!

Segue abaixo um breve relato de um colega Agrônomo que esteve em Teresópolis na última quinta-feira:

O que APRENDI em Teresópolis-RJ.

"Amigos, cheguei em (13/Jan/2011 - 5ª feira as 22:50hs) em Teresópolis, chovendo, chuva miuda mais intermitente, em um terreno que já está encharcado, imaginem...
A área central de Terê está tudo normal, lojas, bancos, restaurantes, tudo funcionando normalmente.
Porém na periferia indo em direção a Petrópolis o mundo acabou para muitas famílias. Graças ao bom DEUS não me deparei com nenhum corpo ou gente morta.

Na 6ª feira saimos bem cedo da pousada, eram umas 05:00hs, as padarias ainda estavam fechadas, para podermos tomar café da manhã e seguirmos para a 'Região do Caleme'. 

No quarteirão da delegacia, que está interditado ao trânsito de veículos, funciona o IML e está constantemente lotado de pessoas procurando informações.
O ginásio de esportes principal da cidade está cheio de pessoas, cada uma com sua história e cada uma pior do que a outra, pessoas que perderam tudo, mas tudo mesmo, a esposa, os filhos, os pais, a casa, a esperança e a vontade de viver.....
Fui para Teresópolis, de surpresa sem esperar, não levei roupas, nem coisas básicas como escova de dentes, mas o que mais senti falta, foi da minha máquina fotográfica para poder registrar as coisas que vi.
Conversei com moradores do Caleme e eles me informaram que tudo aquilo aconteceu entre 02 e 03:00 hs da manhã, horário em que todos estavam em suas casas dormindo.
A força das águas é brutal, carros retorcidos, casas cortadas ao meio e levadas, casas inteiras, carros, pessoas e animais que 'd e s a p a r e c e r a m'.
A ex-rua onde eu passei estava totalmente coberta por areia lavada de rio com +/- 1,5 metros de altura do ex-piso que era de paralelepipedo.

Parti por entre aquele vai e vem de pessoas que chegavam para ajudar e aquelas que saiam levando o pouco que sobrou e comentei com o pessoal da equipe de reportagem, "vou sair por aí para ver, até onde o meu coração aguentar", pois eu ainda tinha um bom tempo, porque o JH só iria entrar no ar dali a umas 3 horas.

Segui montanha acima vendo o trabalho de voluntários e bombeiros, ali naquele momento, não existem pobres e ricos, doutores e peões, são todos pessoas que querem ajudar, apesar de vermos também pessoas mal intencionadas que roubam o pouco que sobrou das pessoas que abandonaram suas casas com seus filhos, fugindo do terror.

Mas também há coisas maravilhosas, solidariedade
Após chegar a parte mais alta em que pude chegar, onde alguns moradores aproveitando os troncos de árvores que desceram da montanha e foram trazidos pela enxurrada, faziam uma ponte ou pinguela para dar acesso ao outro lado do rio. Visto isto comecei a descer,  porém derrepente uns 15 metros abaixo, um portão se abre a minha frente e duas moradoras me dão um prato fundo com bifes de hamburger e coxas de frango frito, quentinhos, +/- uns 10 de cada, uma sacola com pães cortados em rodelas, copos descartáveis e guardanapos, noutra sacola 4 pacotes de 1 litro de suco e me disseram isto é para vocês que estão trabalhando e nos ajudando, com tudo aquilo nas mãos, fui até aquelas pessoas que estavam tentando levantar a tal ponte e falei alto "gente vamos comer" e todos me agradeceram, aí lhes disse agradeçam aquelas senhoras, pois a doação foi delas, eu somente trouxe até vocês. E continuei no meu caminho de volta, andando até o ponto inicial de subida. 
AÍ CHEGUEI A CONCLUSÃO QUE SOU UMA PESSOA FELIZ, SEM PROBLEMA ALGUM.

Pois tenho uma família ( esposa, filhos saudáveis, pais bem velhinhos com problemas de saúde inerentes da idade, algumas tias e tios, primos, etc...) um apartamento simples para morar e trabalho para retirar o sustento da família.
Alí naquele lugar senti que era um ser iluminado e rico e que deveria agradecer a DEUS por tudo que ele me deu.
Foi uma experiência única".

Agradeço ao Mauro por permitir divulgar seu relato aqui no blog. 
Nesse momento temos que unir toda a solidariedade que existe para ajudar as mais de 5.000 famílias desabrigadas e rezar pelos mais de 700 guerreiros que se foram nessa tragédia.

Matéria extraída daqui.

Fonte: Mauro Machado, atualmente motorista da equipe de reportagem do JH.

Nenhum comentário:

Postar um comentário